Monitorização ecológica dos Trilhos Pedestres da Rota Vicentina (parte 3)

4 minutos de leitura

Respostas da vegetação aos Trilhos Pedestres

A bibliografia consultada em 2013, acerca dos impactes de trilhos pedestres, referia alterações nos habitats e espécies da flora, numa faixa de largura variável ao lado do trilho. 

Essas alterações incluem, por exemplo, o aumento de espécies invasoras, a diminuição de espécies sensíveis ao pisoteio, o aumento de espécies mais resilientes ou a diminuição da percentagem de cobertura por vegetação. 

Para medir estes impactes na Rota Vicentina, fizeram-se inventários de 3 metros de largura e 10 metros de comprimento, ao lado de trilhos, em locais que abrangem 12 habitats dunares, 4 dos quais classificados como prioritários em termos de conservação da natureza. Nesses inventários são registadas todas as espécies existentes e o seu grau de cobertura dentro do retângulo de amostragem. Esses dados são comparados ao longo do tempo: foram amostrados em 2013 (ano zero), 2017 e 2023. 

trilho

As faixas de amostragem ao lado do trilho são identificadas pelas coordenadas GPS e marcadas com estacas

Contudo, para se perceber se as diferenças encontradas nestes inventários de vegetação se devem à presença de caminhantes ou a outros fatores, é necessário ter locais de amostragem controlo, ou seja, locais com as mesmas características, mas afastados dos trilhos de caminhada. Assim, se uma espécie diminui sua cobertura junto ao trilho, mas não no local controlo, podemos atribuir essa diferença aos impactes dos caminhantes. Se uma espécie deixa de ocorrer na amostragem junto ao trilho, mas também na amostragem controlo, então haverá outros fatores a causar esse desaparecimento, como por exemplo, eventos climáticos atípicos.

notas

Para além dos indicadores definidos, registaram-se ameaças presentes, relacionadas ou não com os trilhos

Foram realizados 34 inventários, que geraram uma enorme quantidade de dados, que são tratados usando métodos estatísticos adequados a cada indicador. Algumas conclusões dessas análises:



  1. As plantas invasoras estão naturalmente a expandir a sua área de ocupação e a dispersar-se, eventualmente com alguma ajuda do ser humano, tanto nos locais próximos dos trilhos como nos locais controlo. Esse aumento implica a perda de espécies nativas, algumas delas raras e protegidas. Os dados não indicam uma correlação entre o uso dos trilhos pelos caminhantes e um aumento de fenómenos de invasão biológica por espécies da flora vascular; a expansão das invasoras está a ocorrer da mesma forma junto ao trilho ou longe dele. 

  2. Foram registadas, na totalidade dos inventários, 34 espécies protegidas ou raras. De 2013 para 2023 a maior parte das espécies diminuíram a sua presença e abundância nos inventários, tanto controlo como experimentais. Foi o caso do tomilho endémico do sudoeste, Thymus camphoratus. Os exemplares vivos encontravam-se com a maior parte dos ramos secos, o que se deverá provavelmente às amplitudes térmicas atípicas da primavera de 2023 e ainda à escassez de precipitação. Contudo, outras espécies protegidas, como Biscutella vicentina e Linaria ficalhoana, parecem ter beneficiado das condições atípicas do clima que se verificaram em 2023, já que aumentaram a sua abundância.

  3. Alguns inventários registaram diferenças consideráveis na sua estrutura, mas as causas eram evidentes no terreno: operações florestais e agrícolas (observado na Serra de S. Luís e na área agrícola entre Sagres e Vila do Bispo), circulação de veículos todo-o-terreno nas dunas, fuçadas de javali, aumento de cobertura por espécies invasoras (com destaque para Acacia spp.) e condições climatéricas atípicas. Relativamente a esta última, verificou-se por exemplo que muitas plantas secaram antes do amadurecimento dos frutos, o que comprometeu a produção de sementes viáveis. Estes fenómenos foram observados tanto junto aos trilhos como nos locais controlo.


planta invasora

Algumas plantas protegidas beneficiaram das pequenas clareiras abertas junto a alguns trilhos, como foi o caso da ansarina-do-sudoeste

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Paula Canha

Paula Canha, bióloga, mestre em Biologia da Conservação, professora na Escola Secundária de Odemira. Vive no concelho de Odemira desde 1987. Os seus principais interesses são o conhecimento, divulgação e preservação dos valores naturais do sudoeste de Portugal. Participou em numerosos estudos ambientais, trabalhos de monitorização ecológica e cartografia de valores naturais. Colabora, entre outros […]

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