Os bastidores de uma actividade de conservação da Natureza (parte 1)

7 minutos de leitura

Acácia-de-Espigas: o planeamento e estratégia de intervenção nas áreas-piloto da Rota Vicentina

Cada área de intervenção tem as suas particularidades e cada equipa também! Existem diferentes maneiras de cuidar da nossa paisagem e intervir em zonas únicas e ameaçadas, que podem variar consoante as características da espécie-alvo, da área de intervenção e do grupo de pessoas que as executam.

No contexto das áreas-piloto da Rota Vicentina, no planeamento das nossas intervenções temos em conta não só as necessidades detectadas no local mas também a dimensão, sensibilidade e da prática do grupo de voluntários de cada actividade de conservação da natureza.

No que diz respeito à intervenção sobre a Acácia-de-espigas (Acacia longifolia) – uma das espécies invasoras da Costa Alentejana e Vicentina –  ou outras do mesmo género, o planeamento e estratégia de intervenção são feitos de três formas.

1. REMOÇÃO PREVENTIVA

A remoção preventiva consiste em percorrer transectos* de forma ordenada, observando “a pente fino” as várias secções de passagem onde, aparentemente, as espécies invasoras ainda não se instalaram nem formaram núcleos significativos.

*Transectos são linhas ou faixas do terreno ao longo das quais se registam, executam ou estudam determinados fenómenos ou acontecimentos. É uma forma de mapear a área de intervenção ou estudo e, neste caso, remover a espécie invasora.

Este tipo de intervenção permite à equipa de batedores detectar e remover acácias isoladas, numa fase inicial de dispersão, percorrendo uma área mais extensa, ou sensível, e prevenindo o aparecimento e expansão de novos núcleos de invasão.

Ao fazermos a remoção preventiva, é preciso ter atenção ao impacto da intervenção. É importante que a equipa não só conheça muito bem a espécie alvo de remoção, saiba identificá-la à distância e nas suas várias fases de evolução, mas também saiba quais as técnicas de controlo mais adequadas a aplicar em cada situação. Além disso, é importante que a equipa de intervenção saiba distinguir a vegetação autóctone e, principalmente, identificar a flora ameaçada ou mais sensível ao pisoteio que possa existir.
Tudo isto pode aprender-se nas actividades de conservação na natureza que a Associação Rota Vicentina organiza regularmente.

E para minimizar quaisquer impactos negativos, são necessários alguns cuidados:

❌ Evitar pisar ou perturbar a flora ameaçada ou mais sensível existente
❌ Evitar percorrer zonas de vegetação densa e sempre que possível, escolher trilhos existentes, zonas sem vegetação ou cobertas de plantas invasoras (ex. chorão-da-praia)
❌ Não deixar as invasoras recolhidas em contacto com o solo
❌ Não transportar plantas invasoras do local de remoção
❌ Não transportar indivíduos com sementes

2. CONTROLO E NEUTRALIZAÇÃO DE NÚCLEOS ISOLADOS

Na intervenção sobre núcleos isolados, o objectivo é encontrar e detectar novas áreas de invasão já estabelecidas e intervir de forma a reduzir, enfraquecer ou, se possível, neutralizar os mesmos. Estes núcleos, como o nome indica, são aglomerados de acácias de pequeno e médio porte que resultam do transporte de sementes provenientes das principais frentes de invasão e da não remoção preventiva.
Nos aglomerados, ou núcleos isolados, é comum já existirem plantas produtoras de sementes e por essa razão a intervenção nos mesmo é muito importante para reduzir de forma eficaz o seu potencial invasor.

Neste tipo de intervenção a equipa pode desempenhar duas tarefas: a remoção preventiva no perímetro do núcleo e a neutralização do foco de invasão, ou seja intervir de forma concentrada nas plantas de maior porte pertencentes ao núcleo alvo.

PRINCIPAIS CUIDADOS A TER!
❌ Evitar pisar ou perturbar a flora ameaçada ou mais sensível existente
❌ Evitar pisotear e percorrer zonas de vegetação densa e sempre que possível, escolher trilhos existentes, zonas sem vegetação ou cobertas de plantas invasoras (ex. chorão-da-praia)
❌ Não deixar as invasoras recolhidas em contacto com o solo
❌ Não transportar plantas invasoras do local ou zona de remoção
❌ Não transportar indivíduos com sementes
❌ Cortar/desbastar apenas o necessário para alcançar o tronco principal
❌ Estar especialmente atento à existência de ramos prostrados e enraizados no solo

3. CONTROLO E FRAGMENTAÇÃO DA FAIXA PRINCIPAL DE INVASÃO

No caso da intervenção na principal faixa de invasão, o objectivo é quebrar e fazer recuar as suas frentes principais.
As “frentes de invasão” são grandes manchas monoespecíficas dominantes na paisagem e, por vezes, impenetráveis.
Quando se observam estas manchas ou se circula no seu interior facilmente se compreende o aspecto da fase de plena invasão, onde as espécies autóctones não se conseguem desenvolver e, por essa razão, a biodiversidade é significativamente reduzida.

Esta forma de intervenção caracteriza-se como um “controlo em massa” no qual, geralmente, participam equipas com maior número de voluntários. Como nestas áreas fortemente invadidas o habitat original se encontra extremamente fragilizado ou os seus vestígios são praticamente inexistentes, o risco de pisoteio do mesmo não representa uma ameaça.
Neste caso, o foco da intervenção deverá estar, primeiramente, nos indivíduos de maior porte ou de médio porte que já são produtores de sementes ou que estão muito perto de produzir as primeiras flores e, consequentemente, sementes.

PRINCIPAIS CUIDADOS A TER!
❌ Evitar pisar ou perturbar a flora ameaçada ou mais sensível existente
❌ Não deixar as invasoras recolhidas em contacto com o solo
❌ Não transportar plantas invasoras do local ou zona de remoção
❌ Não transportar indivíduos com sementes
❌ Cortar/desbastar apenas o necessário para alcançar o tronco principal
❌ Estar especialmente atento à existência de ramos prostrados e enraizados no solo

Numa fase de pós-projecto LIFE Volunteer Escapes, as equipas são formadas por voluntários de curta duração que dedicam um pouco do seu tempo à defesa da flora endémica e são fundamentais para dar continuidade ao trabalho que se iniciou em 2018.

A todos os voluntários que se juntaram e se juntarão às actividades de conservação da natureza da Rota Vicentina, deixo um especial agradecimento pelo esforço e dedicação.

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Leonor Pires

Arquitecta Paisagista de formação, sempre esteve ligada à Natureza. Leonor adora plantas, música, artesanato, desenhar e caminhar ao ar livre. O Alentejo é a sua casa.

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