“Um pequeno contributo na construção de algo grande”

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A opinião de João Ministro sobre o Curso para Guias Locais


Tive o imenso prazer em colaborar, a convite da Associação Rota Vicentina, na organização e preparação deste curso.

Um desafio bastante interessante e aliciante que de imediato aceitei, sabendo que estaria a colaborar em algo novo e diferente do que é usual em Portugal, no que a cursos de guia turísticos diz respeito. Ainda que tenhamos um longo historial de formação nesta área, a verdade é que a maioria da oferta que hoje existe no país recai quase sempre no convencional curso de guias de pedestrianismo, turismo de natureza, turismo sustentável ou de guias intérpretes. O tema ambiental está presente em todos eles, de forma mais ou menos evidente e estruturada, mas raros são os cursos onde se discutam a fundo as questões da responsabilidade territorial e o papel dos guias enquanto agentes de mudança na actividade turística dos destinos.

Foi isso o que desde logo cativou a minha participação nesta iniciativa, bem como a missão plenamente assumida pela Rota Vicentina em contribuir para uma mudança no paradigma turístico dessa região tão especial – a Costa Alentejana e Vicentina – e em fomentar uma oferta mais responsável, transversal e coesa, mais regenerativa e resiliente, perante os valores culturais, naturais e sociais, sem esquecer, naturalmente, os económicos.

Do território nasce tudo aquilo que tanto admiramos e “transformamos” para proporcionar as experiências positivas aos que nos visitam. É dele que retiramos o nosso sustento. É nele que interagimos socialmente e assentamos as nossas raízes culturais, ancestrais e contemporâneas. É nele onde estabelecemos as nossas comunidades e no qual exploramos os recursos. Por tudo isso e muito mais, temos de ser capazes em devolver algo que impulsione a sua boa gestão, conservação e valorização. O Turismo não pode ficar à margem desse desígnio e os seus principais actores, os guias, também não. Por tudo isto estou convicto que o curso surgiu num momento particularmente pertinente e desejado.

O curso procurou equilibrar, na medida do possível, duas abordagens metodológicas: sessões em sala, com experientes e inspiradores convidados, e saídas de campo temáticas e interactivas, com especialistas em diversas matérias. Os tempos foram curtos nalguns casos e ajustados noutros. E vários assuntos validados em inquérito prévio realizado junto dos parceiros da Associação.

Entre os vários temas que de imediato quisemos trazer para a discussão neste curso, o da Ética foi um dos mais consensuais.
Esse terá sido, porventura, um dos mais marcantes e com maior significado perante o que quisemos atingir com este projecto: uma reflexão na forma como agimos turisticamente junto do território, suas comunidades, seus valores e seus recursos.
Mas, como sabíamos desde o princípio, os temas não iriam ser estanques e ao longo das várias semanas foram vários os momentos em que as conversas se cruzaram e em que houve uma reinterpretação daquilo anteriormente falado, mas sob outra óptica e perspectiva. Tal contribuiu de forma muito preciosa para o solidificar dos conhecimentos adquiridos e para a interiorização individual do papel fundamental de cada um nesta actividade tão global, como a de ser guia turístico, e na prossecução de uma actividade mais responsável.

A seleção dos participantes não foi fácil. Para 10 vagas receberam-se cerca de 130 inscrições, pelo que houve necessidade de uma atenta e exigente escolha. O grupo final selecionado, além de bastante heterogéneo – não apenas ao nível de idades, da sua experiência profissional em turismo e das suas motivações pessoais -, traduz uma ampla diversidade geográfica da Rota Vicentina e apresenta uma rica variedade de interesses turísticos a desenvolver.
Tudo isto tornou o grupo bastante interessante e permite-nos hoje ambicionar várias realidades. Por um lado, uma oferta turística mais distribuída no território da Rota Vicentina, com novos enfoques, nomeadamente nos valores culturais do interior, e nesse sentido uma maior coesão da oferta da região. Permite, também, uma maior aposta em experiências autênticas e genuínas, de maior valor integrado e ligação às comunidades. E, naturalmente, uma distribuição mais horizontal da oferta ao longo do ano, sem dependência por um período em concreto, reforçando a resiliência do destino. Temos uma grande esperança que este grupo – ou grande parte dele – se active, ou continue activo, neste território e sejam agentes mobilizadores na prossecução dos objectivos traçados.

“Um pequeno contributo na construção de algo grande”

É assim que vejo a minha colaboração neste interessante e singular projecto, bem como nos propósitos a que o mesmo se destinou. Algo de novo e muito positivo nasceu desta acção e quero acreditar que iremos assistir a interessantes iniciativas nesta região.

Não quero deixar de referir, por fim, a excelente e valiosa colaboração de toda a equipa da Rota Vicentina neste projecto, com a qual tive imenso gosto em trabalhar, e à de muitos Associados que ajudaram, colaboraram e muito amavelmente apoiaram o primeiro curso de guias locais de turismo responsável da Rota Vicentina que certamente não será o último. A todos eles os meus agradecimentos.

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João Ministro

Coordenou diversos projectos de conservação da natureza, educação ambiental e ecoturismo no Algarve, como a Via Algarviana ou o Festival de Observação de Aves em Sagres.  É fundador da Proactivetur, empresa de animação turística e operador turístico / DMC especializado em ecoturismo, turismo criativo e desenvolvimento local.

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