Senhoras e senhores, calcem as botas, neste artigo vou levar-vos comigo ao longo de quatro dias de caminhada pelos Trilhos Pedestres da Rota Vicentina!
Ah, desculpem, não me apresentei. Então, sou a Nina, uma das novas ‘aquisições’ da Associação Rota Vicentina. Sou voluntária do Corpo Europeu de Solidariedade (CES) por 1 ano. Nasci em França, tenho 24 anos e uma alma artística. A minha história de vida é uma alegre mistura de teatro, artes plásticas, palhaçadas, acampamentos, música, viagens (à boleia ou de bicicleta), associativismo e cozinhar sobremesas e pratos bem gostosos!
Vir para Portugal foi um grande desafio para mim. Ao longo de 12 meses, pretendo descobrir todos os cantos e recantos deste país. E claro, não posso sair daqui sem aprender a cozinhar pastéis de nata e sopas de cação! O que me trouxe até à Rota Vicentina foi o meu interesse por este projeto de turismo responsável e o impacto que ele tem nas áreas rurais. Adoro estar na natureza, a vida de campo e caminhar, e desejo ajudar e aprender o máximo possível com a equipa e parceiros da Associação.
As minhas tarefas na Rota Vicentina serão (ou já são!) bastante variadas. Ajudo na manutenção e monitorização dos trilhos, participo nas atividades de conservação e educação ambiental, e claro, registo tudo para as redes sociais (preparem-se, terão agora um sotaque francês)! Vão continuar a ler coisas minhas aqui no blog e também no TikTok da Rota Vicentina.
Apresentações feitas, continuemos então a nossa caminhada.
Com a Martina, a minha colega voluntária, caminhámos na Rota Vicentina por 4 dias, de 25 a 28 de outubro para descobrir a região, os diferentes tipos de trilhos e alguns parceiros da Associação.
Andámos pelo Caminho Histórico e pelo Trilho dos Pescadores. Fomos de Odemira até S. Luís, passando por S. Teotónio, Vila Nova de Milfontes e Cercal do Alentejo. Caminhamos mais de 80 km lado a lado com o rio Mira, com o Oceano Atlântico, por serras e florestas…
O que eu realmente gostava era que pudessem sentir esta caminhada como eu, através dos cinco sentidos, porque para mim, foram 80 km ricos em sensações. Vamos lá!
Olhar
O que vemos, em primeiro lugar, é o espetáculo de uma impressionante paleta de cores de Outono. Os tons de verde estão por toda parte. Passo a passo, atravessamos folhagens escuras, verde-oliva, verde-musgo ou verde-esmeralda: a erva fresca da manhã, os arbustos, os medronheiros ou até mesmo as oliveiras. Mas também muitos eucaliptos, que têm um comportamento invasor nas florestas portuguesas, são altamente inflamáveis e, no entanto, estão por toda a parte.
O verde é salpicado por amarelo, branco ou roxo graças às flores que vemos (Dittrichia viscosa, Linum bienne, Calamintha nepeta…). Depois do verde, vem o laranja que alegra a paisagem: a terra, a areia da Costa Alentejana, as telhas lusas nos telhados. O laranja desdobra-se em castanho, quase vermelho, com o tronco dos sobreiros. Falando em castanho, durante a caminhada vimo-nos muitas vezes rodeadas por tons castanhos, terracota ou bege das vacas, aranhas, cobras, ovelhas, insetos, porcos, pedras e cogumelos.
Ao longo do caminho, também o céu azul, às vezes acinzentado, acompanha-nos, assim como o azul profundo do mar que muda com as ondas.
Ouvir
Após uma caminhada mais visual, são agora os sons que ressoam. Os meus ouvidos estavam sempre alerta. O som do vento misturado com o bater das ondas contra as falésias entre Zambujeira e Vila Nova de Milfontes. Também ouvimos o mugido das vacas e a melodia dos seus chocalhos, o canto dos pássaros e das cegonhas, a água a correr nos rios e as gotas de chuva a cair nos nossos casacos, e, por vezes, o som de nossas vozes e nossas respirações ofegantes ao subir a Serra do Cercal. Esta é uma das poucas regiões do mundo onde se pode ver ninhos de cegonhas nas falésias ao longo da costa. E a Serra do Cercal, que nos oferece vistas magníficas e alcança os horizontes desde S. Luís e a Vila Nova de Milfontes, um espetáculo mágico!
Cheirar
Desde que partimos de Odemira, o meu nariz é tomado por mil cheiros. Primeiro, o orvalho, a humidade da terra, a frescura das plantas após um dia de chuva. Depois, os vegetais e ervas aromáticas da horta do Turismo Rural Herdade do Touril, que me trouxeram tantas memórias.
O perfume dos pinheiros, dos eucaliptos e das laranjeiras nos seguem entre o Cercal do Alentejo e S. Luís. Ao longo do Trilho dos Pescadores, sentimos a maresia e o ar do mar, que se distingue dos cheiros do Caminho Histórico. Durante nossas pausas descansar e comer, quer na Herdade do Touril (Zambujeira do Mar) quer com D. Ondina (Almograve) ou no Rocamar (Cavaleiro), o cheiro a peixe, polvo e fritos faz-nos cócegas no nariz. No Turismo Rural Três Marias, já no último dia de caminhada, sentimos o cheiro do pão acabado de sair do forno e das panquecas ao pequeno-almoço. Na véspera, nosso olfato foi testado pelo Diogo, gerente do alojamento, que nos deu uma breve aula de enologia com o vinho alentejano “Bellus”.
A última fragrância que destaco é a das nossas botas, após 20 km de caminhada por dia… mas não vou perder nesta ideia, passemos para a próxima etapa: o tato.
Tocar
Este é um sentido mais complexo, mas bem presente ao longo da nossa caminhada. Ao longo do caminho vimos alguma dificuldade em avançar rapidamente devido à areia sob nossos pés. O Trilho dos Pescadores não é um percurso fácil, e são inclusive muitos os caminhantes que usam bastões de caminhada. Acaricio a casca áspera do tronco dos sobreiros após a retirada da cortiça. Fátima, uma taxista de S. Teotónio, explicou-nos, entre outras coisas, que a retirada da cortiça é feita a cada nove anos, e que o número desenhado em cada árvore corresponde ao ano em que a árvore foi descortiçada. O clima desta semana também não nos ajudou. Foi muito o calor, as rajadas de vento ou a chuva que nos caiu em cima e nos deixou encharcadas. E, finalmente, sentimos o frescor das pedras que apanhámos entre Cercal do Alentejo e S. Luís. Esta etapa do Caminho Histórico foi a minha favorita. Encontramos muitos quartzos no chão, a região está repleta deles, principalmente nas áreas ricas em água. Explicaram-nos, inclusive, que muitas comunidades instalam-se no Alentejo devido às energias que esta terra concentra.
Saborear
Se pararmos para observar tudo o que a natureza nos dá, percebemos que é possível preparar uma refeição inteira! Ao longo desta caminhada provei marmelos em S. Luís, fruto com um toque muito ácido, mas que promete marmeladas e geleias incríveis. Experimentei azeitonas recém-colhidas, mas prefiro o azeite ou já britadas, pois assim é amarga e ácida ao mesmo tempo. Mas estas experiências culinárias ardilosas não me detém. Degustei ao longo do caminho os medronhos, essas pequenas frutas do medronheiro, deliciosas, granuladas, muito doces. Este é o fruto que dá origem à famosa aguardente que aquece a garganta e que é facilmente encontrada no Sul de Portugal. No caminho, encontrei ainda uma laranjeira, perdida no meio dos sobreiros, que me ofereceu uma laranja muito suculenta e doce!
E pronto, terminamos assim a nossa jornada na pacata aldeia de S. Luís. A caminhada terminou, mas não minha viagem na Rota Vicentina.
Continuarei por aqui, no Blog, e também no Tiktok, com mais artigos e vídeos sobre a minha aventura como voluntária na Rota Vicentina. Até já!
@rotavicentina La randonnée de Nina sur la #RotaVicentina ♬ France Accordion Swing - MIZUSATO Masaki
Nina nasceu em 1998 em Chartres, França. Lá estudou teatro e artes plásticas e trabalhou em escolas e em acampamentos de verão. É voluntária do Corpo Europeu de Solidariedade durante um ano na Rota Vicentina, no âmbito do projeto Regenerar Odemira II. Adora arte, natureza, cozinhar e viajar!