A flora endémica, rara e ameaçada dos trilhos da Rota Vicentina

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Biodiversidade de flora no Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) é um hotspot de biodiversidade de destaque nacional e europeu, pela grande diversidade de paisagens e ecossistemas que integra.

No extremo sudoeste do velho continente, este território é delimitado por uma “barreira” física de serras quase contínuas (desde a Serra do Cercal até à Serra de Monchique).

Esta condição de refúgio, onde inúmeras espécies sobreviveram durante a última glaciação, contribuiu para a grande quantidade de espécies endémicas, raras e ameaçadas, que se encontram, algumas exclusivamente, nesta faixa costeira.

Durante as actividades de voluntariado nos Trilhos Pedestres da Rota Vicentina foram mapeadas inúmeras destas espécies RELAPE* (plantas Raras, Endémicas, Localizadas, Ameaçadas ou em Perigo de extinção).

A presença destas plantas atesta a importância de preservação destes ecossistemas prioritários de grande valor natural.

Através dos registos da plataforma Flora-on**, neste território, conseguimos contabilizar um total de 53 espécies classificadas como ameaçadas – englobando as categorias*** de Vulnerável, Em Perigo e Criticamente em perigo.

* Espécies RELAPE é um designação utilizada para referir todas as espécies de plantas raras, endémicas, localizadas, ameaçadas ou em perigo de extinção. Este grupo de espécies engloba as espécies prioritárias para conservação.

** Flora-on - é uma plataforma online, lançada em 2012, criada pela Sociedade Portuguesa de Botânica, onde se sistematiza informação fotográfica, geográfica, morfológica e ecológica das espécies de plantas autóctones ou naturalizadas em Portugal Continental, Açores e Madeira. Esta plataforma está em constante actualização e funciona, entre outra coisas, como uma forma prática de identificação das espécies de plantas da flora portuguesa.

*** Categorias de risco de extinção - são definidas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN ou IUCN) com base em critérios precisos, que servem de referência para todos os países, e permitem uma avaliação técnica e fidedigna sobre o estado de conservação das espécies e a realização dos respectivos inventários altamente detalhados, conhecidos como “As Listas Vermelhas”.

Que flora encontramos nos Trilhos Pedestres da Rota Vicentina?

Nas actividades de voluntariado, manutenção de trilhos e visitas de campo, a equipa da Associação Rota Vicentina e os seus voluntários, mesmo sem as procurar activamente, já registaram pelo menos 12 destas espécies.

O território abrangido pelos trilhos da Rota Vicentina é muito vasto e podemos encontrar espécies mais “típicas” de cada trilho.

No caso do Trilho dos Pescadores, que segue maioritariamente junto à costa, é possível encontrar a presença de espécies como:


Já no Caminho Histórico e Percursos Circulares, mais interiores, onde as altas temperaturas, exposição solar e secura se fazem sentir, podemos ver espécies interessantes mais adaptadas a essas condições como:


Neste extenso território, também é possível encontrar ecossistemas mais húmidos e frescos. É em situações de floresta fresca e ensombrada que é possível encontrar espécies como:


Também em risco de extinção, mas classificadas como quase-ameaçadas na Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, já encontrámos pelo menos 8 espécies diferentes, das 28 registadas para este território. Destas destacamos sobretudo 4, que podemos encontrar na área-piloto Zimbrais dos Alteirinhos:


Das espécies que aqui evoluíram e que por aqui ficaram, endémicas de Portugal, contabilizam-se 45 no PNSACV.
Pelo menos 20 dessas espécies foram avistadas nos Trilhos Pedestres da Rota Vicentina. A diversidade é enorme! Podemos encontrar desde plantas de reduzidas dimensões e difíceis de identificar como:


Ou plantas de porte maior, aspecto espinhoso e fixadoras de azoto da família das leguminosas:


É possível encontrar também plantas cujas fragrâncias atrativas nos acompanham até longos metros de distância:


A diversidade de flora é realmente incrível e mesmo entre espécies não ameaçadas ou endémicas, encontramos exemplos de espécies raras. Em Portugal, e quase exclusivamente nesta paisagem litoral, destacam-se espécies como a Erva-salsicheira-peluda – Dorycnium hirsutum (foto 17) – e a Ferula-anã-do-litoral – Cachrys libanotis (sem foto).

Como ajudar a proteger a biodiversidade dos trilhos da Rota Vicentina?

Um dos nossos compromissos é valorizar e preservar a flora autóctone nos trilhos e áreas-piloto da Rota Vicentina e contribuir para o mapeamento destas espécies.

Conhecendo a sua localização, poderemos mais facilmente sensibilizar os caminhantes e parceiros para a sua importância.
Para a preservação destas espécies é fundamental que os caminhantes da Rota Vicentina, mais do que conhecê-las, ajudem a contribuir para sua proteção.

Nesse sentido, reforçamos a importância de permanecer no trilho marcado com a sinalética da Rota Vicentina, evitando a proliferação de trilhos que aceleram a fragmentação dos habitats e provocam a fragilização dos ecossistemas.

Encontrou alguma destas espécies durante a sua caminhada, ou no seu terreno? Quer contribuir para o mapeamento da flora e fauna no território?

Num próximo artigo vamos explicar como poderá fazê-lo! Fique por aí!

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Leonor Pires

Arquitecta Paisagista de formação, sempre esteve ligada à Natureza. Leonor adora plantas, música, artesanato, desenhar e caminhar ao ar livre. O Alentejo é a sua casa.

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