A flora endémica, rara e ameaçada dos trilhos da Rota Vicentina
7 minutos de leituraBiodiversidade de flora no Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina
O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) é um hotspot de biodiversidade de destaque nacional e europeu, pela grande diversidade de paisagens e ecossistemas que integra.
No extremo sudoeste do velho continente, este território é delimitado por uma “barreira” física de serras quase contínuas (desde a Serra do Cercal até à Serra de Monchique).
Esta condição de refúgio, onde inúmeras espécies sobreviveram durante a última glaciação, contribuiu para a grande quantidade de espécies endémicas, raras e ameaçadas, que se encontram, algumas exclusivamente, nesta faixa costeira.
Durante as actividades de voluntariado nos Trilhos Pedestres da Rota Vicentina foram mapeadas inúmeras destas espécies RELAPE* (plantas Raras, Endémicas, Localizadas, Ameaçadas ou em Perigo de extinção).
A presença destas plantas atesta a importância de preservação destes ecossistemas prioritários de grande valor natural.
Através dos registos da plataforma Flora-on**, neste território, conseguimos contabilizar um total de 53 espécies classificadas como ameaçadas – englobando as categorias*** de Vulnerável, Em Perigo e Criticamente em perigo.
Que flora encontramos nos Trilhos Pedestres da Rota Vicentina?
Nas actividades de voluntariado, manutenção de trilhos e visitas de campo, a equipa da Associação Rota Vicentina e os seus voluntários, mesmo sem as procurar activamente, já registaram pelo menos 12 destas espécies.
O território abrangido pelos trilhos da Rota Vicentina é muito vasto e podemos encontrar espécies mais “típicas” de cada trilho.
No caso do Trilho dos Pescadores, que segue maioritariamente junto à costa, é possível encontrar a presença de espécies como:
- Cambroeira – Lycium intricatum (foto 1);
- Cornicabra – Ephedra fragilis (foto 2);
- Mandrágora – Mandragora autumnalis (foto 3);
- Alquitira-do-algarve – Astragalus tragacantha (foto 4);
- Tojo-de-sagres – Ulex erinaceus (foto 5);
- Grizandra-vicentina – Diplotaxis siifolia subsp. vicentina (sem foto).
Já no Caminho Histórico e Percursos Circulares, mais interiores, onde as altas temperaturas, exposição solar e secura se fazem sentir, podemos ver espécies interessantes mais adaptadas a essas condições como:
- Scorzonera baetica (foto 6);
- Erva-pinheira-orvalhada – Drosophyllum lusitanicum (foto 7);
- Serrátula-do-algarve – Klasea algarbiensis (sem foto).
Neste extenso território, também é possível encontrar ecossistemas mais húmidos e frescos. É em situações de floresta fresca e ensombrada que é possível encontrar espécies como:
- Leiteira-de-monchique – Euphorbia paniculata subsp. monchiquensis (foto 8);
- Campainha-do-sudoeste – Campanula alata (sem foto);
- ou, ainda, o Carvalho-de-monchique – Quercus canariensis (sem foto), classificado como “criticamente em perigo”, cujo estado de conservação é altamente preocupante.
Também em risco de extinção, mas classificadas como quase-ameaçadas na Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, já encontrámos pelo menos 8 espécies diferentes, das 28 registadas para este território. Destas destacamos sobretudo 4, que podemos encontrar na área-piloto Zimbrais dos Alteirinhos:
- Zimbro-galego – Juniperus navicularis (foto 12);
- Cenoura-vicentina – Daucus carota subsp. halophilus (foto 10);
- Biscutela-vicentina – Biscutella sempervirens subsp. vicentina (foto 9);
- Sargacinho-amarelo-dos-apeninos – Helianthemum apenninum subsp. stoechadifolium (foto 11).
Das espécies que aqui evoluíram e que por aqui ficaram, endémicas de Portugal, contabilizam-se 45 no PNSACV.
Pelo menos 20 dessas espécies foram avistadas nos Trilhos Pedestres da Rota Vicentina. A diversidade é enorme! Podemos encontrar desde plantas de reduzidas dimensões e difíceis de identificar como:
- Hérniária-marinha – Herniaria maritima (sem foto);
- Cocleária-menor – Jonopsidium acaule (foto 13);
- Leiteira-do-sudoeste – Euphorbia transtagana (sem foto);
- Ansarina-do-sudoeste – Linaria bipunctata subsp. glutinosa (sem foto);
- Jacinto-dos-charcos – Hyacinthoides vicentina (foto 14).
Ou plantas de porte maior, aspecto espinhoso e fixadoras de azoto da família das leguminosas:
- Tojo-prateado – Ulex argenteus (foto 15);
- Ulex australis subsp. welwitschianus (sem foto);
- Codeço-de-monchi que – Adenocarpus anisochilus (sem foto).
É possível encontrar também plantas cujas fragrâncias atrativas nos acompanham até longos metros de distância:
- Pólio-vicentino – Teucrium vicentinum (sem foto);
- Tomilho-canforado – Thymus camphoratus (foto 16);
- Thymus villosus (sem foto);
- Dittrichia viscosa subsp. revoluta (sem foto);
- Esteva-de-sagres – Cistus ladanifer subsp. sulcatus (foto 18).
A diversidade de flora é realmente incrível e mesmo entre espécies não ameaçadas ou endémicas, encontramos exemplos de espécies raras. Em Portugal, e quase exclusivamente nesta paisagem litoral, destacam-se espécies como a Erva-salsicheira-peluda – Dorycnium hirsutum (foto 17) – e a Ferula-anã-do-litoral – Cachrys libanotis (sem foto).
Como ajudar a proteger a biodiversidade dos trilhos da Rota Vicentina?
Um dos nossos compromissos é valorizar e preservar a flora autóctone nos trilhos e áreas-piloto da Rota Vicentina e contribuir para o mapeamento destas espécies.
Conhecendo a sua localização, poderemos mais facilmente sensibilizar os caminhantes e parceiros para a sua importância.
Para a preservação destas espécies é fundamental que os caminhantes da Rota Vicentina, mais do que conhecê-las, ajudem a contribuir para sua proteção.
Nesse sentido, reforçamos a importância de permanecer no trilho marcado com a sinalética da Rota Vicentina, evitando a proliferação de trilhos que aceleram a fragmentação dos habitats e provocam a fragilização dos ecossistemas.
Encontrou alguma destas espécies durante a sua caminhada, ou no seu terreno? Quer contribuir para o mapeamento da flora e fauna no território?
Num próximo artigo vamos explicar como poderá fazê-lo! Fique por aí!
Arquitecta Paisagista de formação, sempre esteve ligada à Natureza. Leonor adora plantas, música, artesanato, desenhar e caminhar ao ar livre. O Alentejo é a sua casa.